segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Prólogo - Primeiro ato - A criação.

  As cordas estremeciam e cantarolavam, delicadas como os lábios da jovem meretriz de cabelos espessos, que mais lembravam labaredas por sua vermelhidão conforme dançava.
 O ar fresco transformava a noite na pequena Veneza, onde o carnaval era visível em mascaras que tomavam os rostos bonitos de jovens mulheres e, as faces quadradas de homens sedentos por calor, em uma noite que mais cedo ou mais tarde perderia seu encanto.
 Três cordas apenas... Três cordas para a melodia da noite sinistra que estaria por vir. Para uma vida sem alma. Para uma alma sem quaisquer resquício de vida, podendo abafar um choro que não aconteceu, quando o sangue tomara o assoalho e o pequeno corpo fora empurrado para baixo da cama, que instantes depois mexia-se de forma brusca emitindo sons. Os primeiros que ela ouviria, após o primeiro sopro de vida de seu pai, tão injusto e cruel, cujo o amor o cegara o transformando no aborto de boas almas. Talvez se eles, que pulavam e cantavam no lado de fora a frente do bordel mal cheiroso, olhassem por um só momento para cima, poderiam ter visto e quem sabe ouvido os de pernas de madeira arranhando o chão, em coro com gemidos da jovem de cabelos espessos, apoiada sobre os joelhos e mãos, tendo continuamente o corpo impulsionado para frente conforme o membro ereto, daquele que mais tarde viria a ser seu senhor, lhe penetrava brutalmente por trás em uma das cavidades, sem se importar com o que estava abaixo da cama ou o sangue cujo facilitara empurrar a criança para baixo dela.


                        Primeira lição:
 " O carnal é tão mais confiável do que a palavra daquele que ousa dizer servir a um Deus. "